domingo, 8 de setembro de 2013

Sobre meus passos sem você.

Hoje me dei conta de que alcançamos o maior tempo sem trocar uma palavra um com o outro desde que nos aproximamos. Tem sido complicado pra mim, sabe ? Antes era só a falta física de você. Sabíamos que não ia ser fácil ter uma enorme estrada de distância entre a gente, mas pelo menos eu sabia você estava aí, do outro lado da linha. Agora está tudo meio fora de lugar.
Minha vida sem você tem estado estranha. Imaginei que ela fosse voltar pro que era antes de você dobrar a esquina do meu átrio direito e se instalar ali: dias normais com pessoas sem graça, mas não. Eu cresci tanto com você que não consigo mais voltar ao tamanho que tinha antes, como se eu estivesse fora do lugar. Sem você eu sinto que não me encaixo mais na minha própria vida.
Sem você aí do outro lado eu só tenho as fotos e os registros das conversas que tivemos pra lembrar dos dias bons. Sem você acho eu tenho ido bem. Quer dizer, ninguém morreu, além da minha visão sonhadora de mundo. O problema são as noites. As madrugadas, na verdade. É, as madrugadas têm sido difíceis, não tenho bem a certeza do porquê…Talvez porque fosse a hora que nos falávamos mais, ou porque seja a hora em que a gente deita a cabeça no travesseiro e a saudade aperta o coração. Às vezes chega a doer.
Tem feito mais frio do que deveria fazer em setembro. Os dias sem você têm sido sempre negativos e em preto e branco e por mais que eu use cachecóis e luvas, falta o verde dos seus olhos aqui pra esquentar as coisas. Tenho bebido mais desde que você foi embora também.  Não tinha bebido essa uva antes de você. Na verdade, não conhecia muitas coisas antes de você. Saber que eu fico bem de cabelo preso, descobri meu gosto por músicas calmas e rir de quem passa na frente do meu carro foram umas delas. Ser plenamente feliz também foi uma coisa que eu descobri com você.
Sem você tem sido difícil me adaptar com as coisas, me acostumar. Outro dia quase chamei alguém aqui pra sair. Quase, porque aí eu percebi que ele não tinha seu sorriso, nem seus olhos, nem seu cabelo. Nem seu nariz, nem seus lábios, nem seu cheiro. Aposto que ele não sabe jogar do jeito que você joga. Sem você os outros perderam a graça.  Desde que você foi embora, foi embora meu norte também. Tem dias que eu me perco no caminho do pub pro flat. Todos aqueles planos e as verdades absolutas que eu sempre tive também foram depois que você foi embora. Não tem mais poesia, só prosa. Como essa aqui.
Tenho ido bem sem você, tirando o fato de que sem a sua boca meus lábios racham de frio ou que sem seu sorriso tá tudo mais nublado aqui. Sim, eu tenho ido bem sem você. Até aprendi a mentir.




- Entre todas as coisas.

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